Monte Roraima: uma história em 8 dias

O Monte Roraima povoa o imaginário de muitos mochileiros e trilheiros. Mas por que não tornar esse sonho realidade? Esse tepui (tipo de relevo em forma de mesa formado há cerca de 2 bilhões de anos) encontra-se em 3 países: Brasil, Venezuela e Guiana, porém, apenas 10% estão no Brasil. Do lado brasileiro ele pertence ao Parque Nacional Monte Roraima, já do lado venezuelano, ao Parque Nacional Canaima (que se estende desde a região do Salto Angel, o mais alto do mundo, até Santa Elena de Uairén, abrangendo também a região da Gran Sabana). Há mais de 100 tepuis na região, sendo o Monte Roraima o mais elevado da cadeia, com 2810 metros de altitude (no seu ponto mais alto, a rocha Maverick). A parte superior tem 31 km2, com suas falésias caindo por 400 m de altura.

Trilha do 1º dia: Porteador e sua “mochila indígena’
Trilha do 1º dia: Veja quanta coisa eles carregam

E o que tem lá em cima dessa “grande mesa”, Sabrina?

Uma incrível paisagem que mais parece uma mistura do tempo dos dinossauros com a superfície de algum planeta estranho. Eu só digo que é fascinante e, se você gosta de travessias, deve colocar já essa na lista! Para acessar o local, é preciso entrar pela Venezuela, sendo obrigatório guia para o trekking. As agências geralmente oferecem 6 ou 8 dias de caminhada. Porém, eu recomendo fortemente que faça em 8 dias, tanto para percorrer com calma cada etapa do percurso quanto porque, assim, é possível andar de uma ponta até a outra do Monte Roraima, conhecendo os principais atrativos (sim, tem rio, tem cachoeira, tem mirante, tem rochas em formatos exóticos que não se sabe como estão equilibrados dessa maneira, tem lagos, tem vegetações de montanha, tem cavernas etc. Ou você achou que não tinha nada lá em cima? rs). Se fizer o trekking em 6 dias terá que correr mais e/ou só irá até o comecinho da parte superior (NOOO!).

Trilha do 1º dia: No começo o Monte Roraima estava um pouco encoberto
Trilha do 1º dia: nuvem cobrindo o Monte Roraima

E quando eu vou?

Diz-se que de maio a setembro seria a época mais chuvosa, e de outubro a abril, a mais seca. Se você for combinar o trekking ao Monte Roraima com o Salto Angel, é importante ressaltar que em dezembro começam as secas no Salto Angel e que, a partir daí, existe a possibilidade de não ter como visitar o Salto Angel por escassez de água no rio (o barco não tem como avançar). Eu visitei o Monte Roraima e o Salto Angel em dezembro (passei meu natal e ano novo lá). Ainda consegui visitar o Salto Angel (tema de relato futuro), apesar de o rio já ter começado a baixar. Porém, amigos meus quase não conseguiram fazer esse outro roteiro em março, por exemplo. Portanto, se for programar Salto Angel também, estude bem que época ir.

Trilha do 1º dia: o sol começa a sair e um arco-íris dá o ar da graça
Trilha do 1º dia: Kukenan à esquerda e Monte Rorama à direita

Além do Monte Roraima e do Salto Angel, outro roteiro bem popular na região é a Gran Sabana, conjunto de cachoeiras bem espalhadas pelo Parque Nacional Canaima, podendo ser visitadas com roteiros de 1 a vários dias. Eu fiz 1 dia de Gran Sabana entre o Salto Angel e o Monte Roraima, na folga de dias que tinha. Isso em 26 de dezembro, porque no dia 25 de dezembro nada funcionou em Santa Elena de Uairén.

Trilha do 1º dia: tá abrindo o tempo, gente!
Trilha do 2º dia: eu não resisto a uma placa!

Muitas pessoas deixam para contratar um guia, que é obrigatório para o trekking no Monte Roraima, na hora. Porém, dessa maneira, é preciso ter uma folga de dias, pois talvez não haja nenhuma agência ou guia saindo nas datas que precisa. Eu contratei minha agência daqui do Brasil, por e-mail. As agências do Brasil geralmente cobram um valor bem maior, e as agências venezuelanas têm os melhores preços. Algumas pessoas contratam guias independentes também.

Trilha do 2º dia: a aproximação
Trilha do 2º dia: uma queda d’água de cada lado

Eu recomendo a agência Mystic (site e Facebook; e-mail: mystictours2113@gmail.com), mas também há boas recomendações de outras agências e guias, como a Backpackers (site e Facebook) e a Kamadac (site e Facebook), por exemplo. Pesquise bem o preço de todas, bem como a reputação. Algumas pessoas que conheço foram com o guia Gregory Lans e recomendam (contato do Facebook), mas há vários que atuam na região.

Trilha do 2º dia: deslumbrada já
Trilha do 2º dia: dei sorte, nem sempre tem cachu

Outra coisa importante é pesquisar sobre pessoas que tenham ido recentemente, ou então entrar em contato por e-mail com as agências para saber como anda a situação dessa parte da Venezuela. Fui no final de 2015 e conheço pessoas que foram normalmente em 2016, e ouvi dizer de gente indo agora em 2017. Não necessariamente é perigoso ou impossível visitar esse local na situação do país hoje, mas é mais importante pesquisar e contatar as agências de lá do que especular.

Trilha do 2º dia: acampamento base
Trilha do 2º dia: olha a vista do acampamento base!

Recomendo também a contratação de um seguro-viagem que tenha a opção de resgate de helicóptero, a única maneira de ser resgatado no caso de acidentes no Monte Roraima. A melhor maneira de conhecer o Monte Roraima é pegando um voo para Boa Vista (Roraima). Meu voo chegou quase 2h da manhã em Boa Vista, e peguei um táxi (preço tabelado de R$ 30,00) para o Hotel Mecejana. Precisei me hospedar em Boa Vista, pois a essa hora não havia transporte para a Venezuela.

Trilha do 2º dia: quando o sol começa a se por a cachu fica assim
Trilha do 2º dia: já escurecendo

No dia seguinte, meu plano era pegar um táxi coletivo de Boa Vista a Santa Elena. Para isso, é preciso ir ao terminal do Caimbé (Av. dos Imigrantes, 230), em Boa Vista. Em qualquer lugar que você perguntar, todo mundo sabe de onde saem os táxis para Santa Elena. Se não conseguir um táxi para Santa Elena, pode pegar um para Pacaraima, a última cidade brasileira antes da fronteira, e de lá, outro para Santa Elena. De Boa Vista, os táxis saem um atrás do outro, assim que lotam. De Boa Vista a Santa Elena são 230 km, feitos em cerca de 3h, e o valor da viagem por pessoa é de R$ 40,00. Não se preocupe, ouvi dizer que sempre tem gente indo para Santa Elena ou Pacaraima para dividir esses táxis coletivos. Porém, aconselho que chegue bem cedo, lá pelas 7h, para garantir. Eu não sei dizer se há táxis saindo mais tarde ou no período da tarde.

Trilha do 3º dia: arepas para aguentar a terrível caminhada do terceiro dia
Trilha do 3º dia: esse é o começo, com mais terra

Agora, como eu sempre tenho que fazer as coisas “com emoção”, comigo foi diferente. Assim que cheguei ao Hotel Mecejana, de madrugada, um jovem recepcionista disse que achava que eu poderia sair umas 9h para pegar o táxi para Santa Elena. Então tive uma noite de miss no hotel, aproveitando a cama e o chuveiro ao máximo. Às 9h saí do quarto e, ao chegar na recepção, o funcionário do dia disse que os táxis coletivos já haviam todos saído cedinho (por isso eu te digo para chegar umas 7h lá no terminal para pegar esse táxi). Entrei em desespero, pois eu iria primeiro ao Salto Angel e minha passagem de ônibus para a noite já estava comprada e meus dias estavam contadinhos para os passeios.

Trilha do 3º dia: logo vêm as pedras
Trilha do 3º dia: essa é a foto mais próxima do Paso das Lagrimas que consegui… era muita água caindo lá de cima

Fiz o recepcionista telefonar para todos os taxistas da “agenda” dele. Todos estavam sem sinal, por já estarem na estrada, ou os que atendiam falavam que também já estavam na estrada e não tinham como voltar. Nesse meu momento de desespero, eis que aparece o salvador: o dono do hotel Mecejana chegou e precisava ir a Santa Elena trocar um controle remoto de uma televisão do hotel e poderia me dar uma carona. Foi um dos momentos mais felizes da viagem! A carona foi tranquila, ele foi muito simpático e salvou minha vida!

Trilha do 4º dia: ai ai, o topo…
Trilha do 4º dia: não parece outro planeta?

Fiquei na fronteira, em Pacaraima. Tinha uma enorme fila para passar na imigração, mas demorou no máximo meia hora. Chegando a minha vez, a saída do Brasil foi tranquila, um rápido carimbo. Algumas pessoas não passam na imigração, entrando direto na Venezuela. Isso é muito perigoso, pois lá na Venezuela, se algum guarda te parar, você pode sofrer as consequências, ser extorquido pela polícia e até coisas piores, como pegarem suas coisas, por exemplo. Por isso, não deixe de carimbar tanto sua saída do Brasil quanto sua entrada na Venezuela (se você pular a imigração do Brasil e for direto para a da Venezuela eles vão te fazer voltar para carimbar a saída do Brasil). Além disso, se você tiver passagem de ônibus ou de avião dentro do país obrigatoriamente vai precisar mostrar esse carimbo, se não não embarca. É possível os guardas te pararem na estrada para o Monte Roraima, por exemplo, e pedirem para ver esse carimbo. Então, por favor, carimba!

Trilha do 4º dia: plantas carnívoras lá em cima
Trilha do 4º dia: esse é o sapinho preto que só habita o Monte Roraima

Você pode entrar na Venezuela com seu passaporte ou com seu RG (que deve ter menos de 10 anos de expedição). Outro documento que podem pedir é o Certificado Internacional de Vacinação, com o carimbo de vacina de febre amarela. Importante: carteira de motorista não passa como documento de viagem, não se esqueça disso.

Trilha do 4º dia: só tem lá no Monte Roraima
Trilha do 4º dia: a paisagem surreal

Depois que saí da fronteira brasileira caminhei por uns 500 metros até a fronteira venezuelana. No caminho, já havia alguns venezuelanos fazendo câmbio do real para o Bolivar, moeda do país. O dinheiro deles é muito desvalorizado em relação ao nosso. Não precisa ter medo de trocar moeda assim, na rua. É assim que funcionam as coisas por lá, você pode trocar um pouco de dinheiro na fronteira para pagar o táxi até Santa Elena, e trocar o resto na rua na cidade, mas as cotações eram iguais. Eu fui com meus pacotes pagos e troquei uns 200 reais para alimentação, deu um enorme bolo de notas! Esse dinheiro rendeu bastante.

Trilha do 4º dia: lindo e intrigante
Trilha do 4º dia: Ponto Triplo

Chegando na fronteira venezuelana a fila estava pequena e foi rápido. Não me perguntaram nada e carimbaram. Ouvi histórias terríveis de extorsão ou de pegarem suas coisas na fronteira, mas comigo foi realmente tranquilo. Passando a fronteira havia uns táxis para Santa Elena e já era bem perto de lá. O táxi custou, convertendo para real, menos de 10 reais.

Trilha do 4º dia: Vale dos Cristais
Trilha do 4º dia: Vale dos Cristais

Santa Elena é uma cidade pequena, com algumas lojas e uma praça central. Não há muito o que se fazer por lá, a não ser utilizá-la como ponto de partida. Quando cheguei ainda era muito cedo para meu ônibus para o Salto Angel (passagem comprada pela agência Mystic) e o simpático funcionário da Mystic deixou eu repousar por lá e depois me acompanhou até a rodoviária. Mas essa não é a história que vou contar agora, já que estamos falando do Monte Roraima. Então, na volta do Salto Angel a Santa Elena fui para minha hospedagem (reservada daqui do Brasil), a pousada L’Auberge. Essa pousada é muito confortável e com preço bom, indico totalmente. Em Santa Elena gastei no máximo 20 reais em cada refeição incluindo bebida. Um dia almocei no restaurante da agência Backpackers. Em uma noite comi num ótimo restaurante chinês que está na praça, onde um bem servido e gostoso arroz frito com vegetais chegou à bagatela de 3 reais! Lá em Santa Elena há também locais para comprar frutas e lanchinhos de trilha, como castanhas e bananinhas, por exemplo.

Trilha do 4º dia: isso branco no chão é tudo cristal!
Trilha do 4º dia: Acampamento Quati

Até aqui eu tinha feito tudo sozinha, Salto Angel e Gran Sabana (depois vou contar como cruzei a Venezuela sozinha e fui ao Salto Angel a partir de Ciudad Bolivar), e então chegaram meus amigos que me acompanhariam ao Monte Roraima. Na noite anterior ao início do trekking os guias que nos acompanhariam passaram na pousada para nos explicar como seria cada dia da caminhada. Olha como seria nosso trekking:

CLIQUE PARA AUMENTAR. Mapa do Monte Roraima. Fonte: www.hike-venezuela.com
CLIQUE PARA AUMENTAR. Mapa do topo do Monte Roraima. Fonte: www.roraimadefato.com

O pacote ao Monte Roraima incluiu guia, transporte de ida e volta de Santa Elena ao início do trekking, barracas para os campings, todas as refeições (menos os lanchinhos de trilha), carregadores que levaram barracas e alimentos e cozinharam todos os dias, barraca que era o banheiro, saquinhos e descarte apropriado para o número 2. Era possível, também, contratar um carregador para levar nossas coisas. Eu não quis, pois estava com o dinheiro contado e, por isso, resolvi levar o mínimo possível de coisas para aguentar carregar.

Minha bagagem consistia em: 3 camisetas e blusinhas de tecido bem leve, que fosse possível eu lavar e reutilizar, sabonete biodegradável da Granado para tomar banho e lavar roupa no rio, lenços umedecidos para os dias de frio na hora do banho, fleece, corta-vento, calça de trilha, calça e blusa segunda-pele para a noite, gorro e luvas, chapéu para o sol, coisas de higiene pessoal, saco de dormir para frio, isolante térmico, capa de chuva para a mochila, lanterna e bastão de caminhada. Ou seja, roupa de trilha no geral, para calor de dia e para frio à noite. DICA: se você não tem capa de chuva para mochila, você pode usar um saco de lixo grande dentro dela, com as coisas por dentro. Levei um cantil de 2 litros d’água apenas, pois todos os dias há vários pontos de abastecimento de água, bastando, para isso, você levar Clor-in para purificá-la.

Trilha do 4º dia: Acampamento Quati
Trilha do 5º dia: Rumo à proa
Trilha do 5º dia: caminho do Lago Gladys

Eu acredito que a trilha no Monte Roraima seja entre o nível médio e o difícil de dificuldade. Não precisa ser atleta, mas é necessário ter uma boa disposição. Nesses 8 dias, caminhei cerca de 90 km. Quando chegamos ao início da trilha nos registramos na entrada do parque, e pude notar que havia muitos cachorros famintos nesse ponto. Gostaria de ressaltar aqui que se alguém puder levar ração para doar nesse lugar, por favor, ajude-os. Falando nisso, é muito bom também se você puder levar coisas de trekking e dinheiro para doar para a equipe que te assistir nessa trilha, e sugiro que entregue em mãos para cada um. Eles trabalham pesado carregando, na maioria das vezes, 15 a 30 kg numa espécie de mochila indígena, feita de fibras de madeira.

Trilha do 5º dia: um dos incríveis mirantes
Trilha do 5º dia: mirante no caminho para o lago Gladys
Trilha do 5º dia: o topo de uma das cascatas que cai lá de cima

No primeiro dia caminhamos por cerca de 12 km, de Paraitepuy ao acampamento Tek. Iniciamos meio tarde, após o meio-dia, e chegamos já quase escurecendo ao acampamento, numa caminhada de umas 4 a 5h, com algumas subidas, mas nada muito intenso. Já nesse primeiro dia dá para ter a magnífica visão do Monte Roraima e do Monte Kukenan ao seu lado, cada vez mais linda à medida que se aproxima. O acampamento Tek fica perto de um rio, como quase todos os outros acampamentos, e assim você pode banhar-se e lavar o que for preciso. A cozinheira preparou o jantar e os carregadores montaram nossas barracas. Nas refeições sempre tinha as tradicionais arepas venezuelanas, espécie de “pão” feito com farinha de milho, super aprovado!

Trilha do 5º dia: Lago Gladys
Trilha do 5º dia: Lago Gladys

Agora você vai descobrir como é essa história de barraca banheiro: é uma barraca mais alta e estreita com uma espécie de banquinho com uma privada encaixada. Você posiciona seu saquinho plástico na privada e faz o serviço! Depois você amarra e deixa do lado de fora. No final de cada dia um dos carregadores (eu não queria ser esse cara!) coloca todos os saquinhos cheios no “shit tube” e leva com ele (eu realmente espero que não seja a mesma pessoa que carrega a comida!). Na volta do Monte Roraima, já na estrada, eles param o carro e jogam tudo numa lixeira.

Trilha do 5º dia: voltando para o acampamento Quati
Trilha do 5º dia: no caminho de volta ao acampamento Quati

No segundo dia, fomos do acampamento Tek ao acampamento base, uns 11 km, mas como saímos de manhã, chegamos cedo ainda nesse ponto. Nesse dia as subidas ficam um pouco mais íngremes e a trilha mais cansativa, mas nada muito forte também. Cruzamos o rio Kukenan, onde também há outro acampamento. Para cruzar os rios, se estiver com dificuldade por causa de pedras escorregadias, pode tirar o tênis e passar somente com as meias, que aderem bem a superfícies lisas demais. Ao se aproximar do acampamento base, as paisagens vão ficando cada vez mais lindas. Tive sorte de ter duas belas cascatas caindo do Monte Roraima. Não é sempre que elas estão lá, pois ocorrem de acordo com as chuvas. Essas cascatas e o Monte Roraima inspiraram o desenho Up! Altas aventuras (muita gente pensa que é o Salto Angel, mas é o Monte Roraima quando está com as cascatas). Eu fiz um vídeo para vocês terem uma ideia melhor do Monte inteiro com as cascatas aqui.

Infelizmente em nosso terceiro dia amanheceu chovendo, e choveu por 24h. Esse é o dia de subir o Monte Roraima. São só 3 km, mas a subida é bem mais intensa e fizemos em umas 5h. De subida, ele é o trecho mais difícil. No começo há uns “degraus” de terra, que estavam molhados pela chuva. Depois há vários trechos em que é preciso segurar nas pedras para se apoiar e subir. Esse trecho se chama La Rampa. Um dos pontos que se passa nessa etapa se chama El Passo de Lagrimas. É um local que, no meio da subida, caminhando por cima de pedras, você passa debaixo de uma das cachoeiras que viu lá do acampamento base. É muito lindo e molha muito também, então tenha suas coisas que não podem molhar bem guardadas.

Trilha do 6º dia: El Fosso
Trilha do 6º dia: El Fosso
Trilha do 6º dia: caminho até o Hotel Principal

Acabamos saindo meio tarde do acampamento base por causa da chuva. Todos os grupos já haviam partido e, por isso, quando chegamos no topo do Monte Roraima tinha escurecido. Apesar de a trilha até aqui ser razoavelmente clara, nessa parte superior o local mais parecia um labirinto. Nosso guia nos levou para nos abrigar em uma espécie de caverna. Os guias chamam essas cavernas de Hotel, e cada grupo dorme em uma das muitas que existem nessa região. Foi o dia de maior perrengue porque a chuva não parou nem um minuto, justo no dia mais tenso de subida, e chegamos cansados para dormir nessa pequena caverna.

Trilha do 6º dia: olha o que tinha perto do Hotel Principal, comi tanto!
Trilha do 6º dia: Jakuzzis
Trilha do 6º dia: jacuzzis, eu juro que entrei!

Felizmente, no dia seguinte, o quarto dia, a chuva parou e não voltou mais até o fim da viagem. Quando saímos da caverna nos deparamos com uma paisagem mágica de rochas que mais parecem ter saído da lua. Nesse dia caminhamos do Hotel Índio até o acampamento Coati, passando pelo ponto triplo, cerca de 10 km feitos em umas 6h. A caminhada no topo é mais ou menos plana, mas há vários “pula pedra”. Cansa bem menos que as subidas até agora, mas é preciso ter atenção para pisar corretamente nesses trechos. Em alguns pontos passamos por belíssimos mirantes, de onde conseguíamos observar a paisagem e até uma cascata caindo lá de cima. Pegamos uns trechos com neblina, mas que não durou muito tempo. O clima lá em cima parece mudar muito rápido nessa inóspita paisagem. Outra curiosidade é que no topo do Monte Roraima existe uma espécie de sapinho preto que só tem lá.

Trilha do 7º dia: de cima do Maverick
Trilha do 7º dia: visual incrível de cima do Maverick

O ponto triplo é onde Brasil, Venezuela e Guiana fazem fronteira. De lá, saímos um pouco da trilha num trecho curto para visitar o Vale dos Cristais. Como o nome diz, o chão e as pedras são repletos de lindos cristais. Lembre-se de que não se pode retirar absolutamente nada do Monte Roraima, inclusive porque na saída do parque, no último dia, os guardas irão te revistar e toda a sua bagagem para ter certeza de que você não retirou nada, inclusive esses cristais (podem te revistar também na fronteira voltando ao Brasil). Chegamos no acampamento Coati, um incrível abrigo debaixo das pedras. Lá foi nosso ano novo, com direito a sopinha antes do jantar! Fizemos nossa contagem regressiva de acordo com o horário do Brasil. O local é bem curioso, uma espécie de caverna, mas sem o teto.

Trilha do 7º dia: eu não resisto… do mirante do Maverick
Trilha do 7º dia: AHAAAAAA, vocês acharam que eu não ia fazer o Up! Altas Aventuras?

No quinto dia caminhamos até o lago Gladys e a proa, uns 8 km por umas 6h. Para a proa é necessário corda para realmente ver o fim do Monte Roraima, e a maioria dos guias não leva, por isso só andamos até onde foi seguro sem corda. O lago Gladys tem uma linda paisagem para se avistar de cima. Dormimos novamente no acampamento Coati.

Trilha do 7º dia: ainda de cima do Maverick
Trilha do 7º dia: a descida.. tem que voltar mesmo?

No sexto dia iniciamos nosso retorno à outra ponta do Monte Roraima, em direção ao Hotel Principal, já perto do Hotel Índio, que dormimos na terceira noite. Foram mais ou menos 10 km percorridos em umas 4h. No caminho, passamos pelo El Fosso, uma espécie de buraco com um lago embaixo, de onde se pode saltar para nadar lá embaixo. Para sair há um caminho por uma gruta. Depois de chegar ao Hotel Principal, deixamos nossas coisas e fomos até as Jacuzzis, um dos lugares mais esperados para mim. São piscinas naturais de água amarelada (e extremamente gelada, como todas as águas da região) e muito convidativas para o banho pelo lindo visual delas, um incrível lugar.

Trilha do 7º dia: seus joelhos vão gritar! Mas bastão ajuda rs
Trilha do 7º dia: o paredão ta ficando longe

No sétimo dia primeiro passamos no Maverick, o ponto mais alto do Monte Roraima. Bastam apenas alguns minutos para subir, e a vista é realmente compensadora, de lá é possível ver alguns dos platôs do Monte Roraima e do Kukenan. Depois caminhamos de volta ao acampamento Tek (aquele do primeiro dia) por cerca de 15 km por umas 8h. Essa parte é bem cansativa, pois engloba a descida do Monte Roraima que foi o trecho de subida mais difícil na ida. Nessa hora eu digo: joelhos para que te quero! Essa descida força bem os músculos das pernas e os joelhos, então é bem útil se você tiver levado bastões de caminhada para te amparar. Almoçamos no acampamento base, mas em seguida prosseguimos para o Tek, onde fizemos o último pernoite.

Trilha do 8º dia: Tchau, Monte Roraima e Kukenan!

No último dia caminhamos por uns 12 km de volta ao Paraitepuy por umas 4h. Ainda paramos para almoçar na estrada na volta para Santa Elena. Chegando na cidade peguei minhas coisas que não levei para a trilha e tinha deixado no L’auberge e de lá, um táxi para a fronteira. Dali carimbamos a saída da Venezuela e a entrada no Brasil e facilmente consegui um táxi para Boa Vista no fim da tarde, pois meu voo de volta para minha cidade era a 01h30 da manhã.

O Monte Roraima, com suas paisagens surreais, foi um sonho realizado! Voltei para casa com uma gratificante sensação, lembrando dos lugares pelos quais passei e nunca vou esquecer!

Trilha do 8º dia: agora é bye-bye!

12 Comments

    1. Sabrina

      Oi, Nathalia! Vamos lá:
      – 1 dia para vc chegar a Boa Vista (de preferência na véspera) e pegar um táxi para Santa Elena.
      – 1 dia de transporte de Santa Elena para o Salto Angel
      – 3 dias no Salto Angel
      – 1 dia para retornar do Salto Angel a Santa Elena
      – 8 dias de Monte Roraima
      – 1 dia para retornar de Santa Elena a Boa Vista

      Obrigada por visitar o blog e volte sempre! 🙂

  1. Perfeita a matéria, as fotos ficaram incríveis. Sou de Santa catarina e as
    belezas naturais aqui são muitas, o Brasil num todo é repleto de lugares extraordinários, mas meu maior sonho é chegar ao fabuloso Monte Roraima, e como você disse todos nós somos capazes de chegar lá…meus parabéns e fico grato pelo seus relatos de poder antecipar e desfrutar através de você toda essa paisagem…”Salve Monte Roraima “

  2. Felipe

    Olá Sabrina! Excelente relato, parabéns!

    Com qual empresa você contratou seu seguro pessoal?

    Qual é a incidência de animais peçonhentos, como aranhas e serpentes? Pergunto por conta da dificuldade de resgate em caso de acidente.

    Muito obrigado!

  3. Felipe

    Olá Sabrina! Excelente relato, parabéns!

    Com qual empresa você contratou seu seguro pessoal?

    Qual é a incidência de animais peçonhentos, como aranhas e serpentes? Pergunto por conta da dificuldade de resgate em caso de acidente.

    Muito obrigado!

    1. sabrina

      Oi! Poxa, muito obrigada!

      Tenho recomendação da World Nomads.. mas nunca precisei usar….

      Isso pq pro Monte Roraima vc precisa de um seguro q inclua um resgate com helicóptero, por isso não é qualquer seguro q tem….

      Não ouvi falar de incidência de animais peçonhentos, desconheço se tem ou não… no tempo q estive lá não ouvi nenhum relato desse tipo de experiência….

      Espero ter ajudado, obrigada por visitar meu site!

  4. PAULO

    Olá Sabrina, seu relato é realmente incrível, riquíssimo em detalhes. Estive no Monte Roraima em agosto/2019 e foi para mim uma experiência inesquecível, principalmente porque já tenho 61 anos, mas gosto muito de aventuras desse tipo. Parabéns.

    1. sabrina

      Oi, Paulo, tudo bem? Puxa, muito obrigada por ler meu relato! Fiquei muito satisfeita com seu feedback, pois espero ajudar muitos viajantes a realizar essa viagem com a ajuda de meu relato. Que incrível saber de sua experiência inesquecível, dou muito valor a quem ama viver e realizar sonhos! Muito obrigada por visitar meu site e volte sempre 🙂 Fique a vontade para ler outros relatos.

Deixe um comentário para Felipe Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *